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Baudelaire para além de “As Flores do Mal” na BDB Cultural


  • Mesa celebra o bicentenário do célebre poeta francês com um debate que visita suas obras e suas posições polêmicas no dia 05, às 21h

FOTO: Retrato de Charles Baudelaire em 1863, por Étienne Carjat. Creative commons.


“Tenho mais lembranças que se tivesse mil anos”: é assim que Charles Baudelaire começa o poema “Spleen” na tradução de Margarida Patriota. O poeta francês, na verdade, comemoraria em 2021 seu bicentenário, ainda longe de um milênio, mas de fato deixou lembranças marcantes na literatura ocidental, especialmente a partir de As flores do mal, coletânea poética de que “Spleen” faz parte, uma das mais famosas do século 19.


É para discutir o impacto deste gigante dos versos na cultura contemporânea que a BDB Cultural recebe a “Mesa em homenagem aos 200 anos de Baudelaire” reunindo o crítico literário Maurício Melo Júnior, a poeta Raquel Naveira e a tradutora e professora Margarida Patriota — responsável pelo relançamento de As flores do mal no Brasil em abril passado.


“Eu sempre achei que as traduções para o português de As flores do mal tinham perdido a riqueza das imagens grotescas criadas por Baudelaire ao tentar manter suas rimas e métricas. Eu decidi deixar de lado a forma para traduzir o conteúdo, que é justamente onde ele apresenta mais inovações. A poesia ocidental se dedicava a coisa de vinte temas, às belas letras, e o Baudelaire multiplicou isso por cem, mostrando que é possível extrair justamente o que ele prega no título: flores e beleza mesmo no que há de mais terrível, asqueroso ou maligno no mundo”, afirma a professora Margarida Patriota.


FOTO: Raquel Naveira - Di Bonetti/Divulgação

Essa inovação temática é justamente o que justifica o amor da poeta Raquel Naveira pelo francês bicentenário. “Um dos meus poemas preferidos dele tem justamente como título ‘A carniça’. O Baudelaire mostrou que as coisas podres também têm seu lugar na poesia. Ele começa uma ruptura que só vai se aprofundando na modernidade e na pós-modernidade, mas a gente tem que pensar que isso também não foi fácil para ele. Essa visão pessimista dele, de que era preciso sempre estar bêbado, fosse de álcool ou fosse de arte, para suportar viver neste mundo, isso ao fim custou sua vida”, lembra a poeta.


Mas a obra poética de Baudelaire não se resume ao pessimismo crônico encontrado em As flores do mal. Segundo Maurício Melo Júnior, um dos méritos do autor francês era saber trabalhar a degradação humana usando toques de humor. “O Baudelaire é um mestre em retratar essa Paris melancólica, mas ele também sempre destacou o riso como uma forma de resistência. Ele chegou a escrever estudos sobre os caricaturistas de seu tempo e como o humor deles ajuda a combater o status quo. Mesmo como poeta, ele está muito além, claro, de As flores do mal, mas é inegável que ali ele sintetiza a sua poesia, que ali está o cerne de tudo”, diz.


FOTO: Maurício Melo Júnior - Divulgação


Como seria Baudelaire no presente?

Um dos objetivos de Margarida Patriota ao traduzir As flores do mal era também aproximar o texto de leitores que hoje em dia não sentem necessidade de ler textos rimados para entendê-los como poesia. “Ao voltar as atenções para a forma com que ele trabalha as imagens, acho que a gente se aproxima do leitor contemporâneo até porque são imagens mais fiéis ao conteúdo original e a própria obra de Baudelaire, que era esse caminho até o extremo. Sua poesia e sua vida são ambas matérias do trágico e ele se colocou inteiro naquele livro para permitir que os novos poetas possam encontra beleza até nos aspectos mais prosaicos, mais vis”, diz a professora.


Mas como seria Baudelaire no presente? “Ele estaria ainda mais pasmo, ainda mais perplexo”, arrisca, com bom humor, Raquel Naveira. “O Baudelaire de hoje seria um poeta vivendo outra mudança social, a dele foi do campo para a cidade, a nossa é dessa tecnologia que avança e dessa peste que nos ameaça. Há dez anos a gente lia apocalipse como se fosse um produto de fantasia, mas o pessimismo saiu do futuro muito, muito distante para um presente assombroso e sem dúvida ele estaria produzindo com urgência sobre isso”, afirma a poeta.


Assim como podemos nos perguntar como a figura contraditória do poeta francês se enquadraria no nosso tempo, podemos jogar o inverso e nos perguntar como o presente se encaixa na obra de Baudelaire e, por suas posições misóginas e patriarcais, ele poderia ser em algum ponto da história um cancelado. “Até pelo que há de contraditório na obra dele, ele seguirá servindo no amanhã. Ele era um crítico de seu tempo por pertencer ao seu tempo. Não se pode condenar por sua misoginia, mas se pode colocar em questão e aprender a partir daí, inclusive que o ser humano é contraditório. Baudelaire continua resvalando em muitos escritores modernos, então de alguma forma ele seguirá no futuro, que seja a partir das correntes literárias, seja por novas traduções. O que é fato é que o fio da evolução da literatura nunca é totalmente perdido”, conclui Maurício.

Sobre a BDB Cultural

A BDB Cultural é uma iniciativa do governo federal, por meio da Secretaria Especial de Cultura, do Ministério do Turismo, em parceria com a Biblioteca Demonstrativa do Brasil Maria da Conceição Moreira Salles (BDB) e, por meio de um termo de colaboração, com a organização social Voar Arte para a Infância e Juventude. A agenda que o projeto executará na BDB segue até março de 2022.

“Com a BDB Cultural, vamos renovar a prática de ser uma referência a outras bibliotecas do país para que elas possam abrir suas asas para voos mais altos e dar vida aos seus espaços”, diz o coordenador-geral da BDB Cultural, Marcos Linhares.

Para saber mais sobre os próximos cursos e eventos oferecidos, acompanhe as novidades da BDB Cultural no Youtube (https://www.youtube.com/c/BDBCultural), no Facebook (https://www.facebook.com/bdbcultural), Instagram (https://www.instagram.com/bdbcultural/) e no site www.bdbcultural.com.br da iniciativa.

Sobre os convidados

Margarida patriota é autora de cerca de 30 livros. Acaba de lançar edição bilíngue do clássico de Baudelaire “As flores do mal”. Mestra e Doutora em Literatura Francesa, lecionou por 28 anos Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Literatura Francesa no Departamento de Letras da Universidade de Brasília (UnB).


Maurício Melo Júnior é escritor, jornalista, crítico literário e documentarista. Foi crítico literário e repórter de cultura do Correio Braziliense entre 1989 e 1999. Escreveu resenhas literárias para o Jornal do Brasil (RJ) e Zero Hora (RS). Trabalha na TV Senado onde apresenta e dirige, desde 2001, o programa Leituras, dedicado à literatura brasileira. Tem 24 livros publicados, entre crônicas, novelas, infantojuvenis, infantis e o romance “Noites simultâneas”.


Raquel Naveira é escritora, professora universitária aposentada pela UCDB, crítica literária e palestrante. Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, autora de vários livros de poemas, ensaios, romance e infanto-juvenis. Pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, à Academia Cristã de Letras de São Paulo e ao PEN Clube do Brasil.

Serviço:

BDB Cultural – Agosto de 2021

Mesa em homenagem aos 200 anos de Charles Baudelaire com Margarida Patriota, Maurício Melo Júnior e Raquel Naveira.

5/8- Transmissão no Facebook e no Youtube da BDB Cultural a partir das 21h.

Outras informações:

Facebook.com/bdbcultural

Instagram - @bdbcultural

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